O projeto Dados à Prova D’água representa um marco na luta contra as enchentes em áreas vulneráveis do Brasil. Desenvolvido por uma colaboração internacional, incluindo pesquisadores do Brasil e de instituições do Reino Unido e Alemanha, o projeto utiliza um aplicativo como ferramenta de engajamento dos moradores na ciência cidadã. O objetivo é o monitoramento e a prevenção de desastres naturais, especialmente enchentes, através da participação ativa da comunidade.
Lançado em 2019, o projeto inicialmente focou em comunidades de Rio Branco, Acre, e M’Boi Mirim, São Paulo, escolhidas pela diversidade de regimes de chuvas e vulnerabilidade social. A pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Maria Alexandra Cunha, destaca que a ideia era envolver os moradores na criação e uso de dados sobre as chuvas para melhorar a tomada de decisões e prevenir desastres.
O aplicativo permite aos usuários registrar a quantidade de chuva usando pluviômetros artesanais e compartilhar informações relevantes, como fotos e textos, contribuindo para um banco de dados acessível tanto pela comunidade quanto pelas defesas civis. A iniciativa se estendeu a escolas nas áreas de foco, promovendo a educação sobre ciência cidadã, mudanças climáticas e prevenção de enchentes.
A pandemia de COVID-19 impôs desafios à implementação direta do projeto, levando à estratégia de “polinização” das comunidades. Polinizadores, incluindo professores e membros da Defesa Civil, foram treinados para usar o app e construir pluviômetros, disseminando o conhecimento nas comunidades.
O alcance do Dados à Prova D’água expandiu expressivamente, envolvendo mais de 400 “cientistas cidadãos” em mais de 20 cidades. Esse engajamento resultou em uma maior conscientização e preparação das comunidades frente às enchentes. Um exemplo notável foi em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, onde, graças aos alertas gerados pelo projeto, uma comunidade conseguiu se evacuar antes de uma chuva intensa, evitando fatalidades.
Além de fortalecer a relação de confiança entre os moradores e as autoridades, o projeto ajuda a complementar os dados oficiais sobre chuvas, contribuindo para um monitoramento mais eficaz. Rachel Trajber, coordenadora do Cemaden Educação, enfatiza a importância desses dados adicionais provenientes das “áreas cinzentas” não cobertas pelos equipamentos oficiais.
O sucesso do Dados à Prova D’água foi reconhecido internacionalmente, recebendo o Celebrating Impact Prize por seu impacto social. O projeto, que conta com o apoio de diversas instituições e agências de financiamento, planeja expandir sua atuação para outras comunidades brasileiras, incluindo a integração de escolas em regiões indígenas, visando um alcance ainda maior na prevenção de desastres naturais relacionados às chuvas.
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