Cientistas anunciaram a descoberta das múmias mais antigas já registradas, com até 14 mil anos. Elas foram encontradas em sítios arqueológicos do Sudeste Asiático e preservadas por uma técnica de defumação impressionante. O estudo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), com coordenação da arqueóloga Hsiao-chun Hung, da Universidade Nacional Australiana.
Os pesquisadores analisaram 54 sepultamentos e constataram que mais de 90% dos ossos tinham sinais de exposição ao calor. Esse processo durava aproximadamente três meses e exigia aquecimento constante, sem chegar à cremação. Assim, a estrutura física se mantinha preservada e as famílias reforçavam laços espirituais com seus ancestrais. Além disso, a prática se espalhou por uma ampla área que incluía o sul da China, o Vietnã, Bornéu e Java. A múmia mais antiga, de Hang Cho (Vietnã), tem mais de 11 mil anos, enquanto ossos de Hang Mu tem cerca de 14 mil anos.
Conexões culturais entre passado e presente
O professor Peter Bellwood, da Universidade Nacional da Austrália, ressaltou que esta é a primeira evidência de mumificação aplicada a pessoas no período paleolítico. Esse fato abre novas perspectivas sobre a complexidade das sociedades caçadoras-coletoras. Além disso, a tradição apresenta paralelos com os costumes do povo Dani, em Papua Ocidental, que ainda preserva corpos com fumaça.
De acordo com o pesquisador Hirofumi Matsumura, da Universidade Médica de Sapporo, essa técnica “permitia às pessoas sustentar conexões físicas e espirituais com seus ancestrais, conectando tempo e memória”. O método, portanto, não apenas conservava os corpos, mas também mantinha viva a presença dos antepassados no cotidiano da comunidade.
Sudeste Asiático assume protagonismo com múmias mais antigas
Até agora, acreditava-se que o povo Chinchorro, no atual Chile, tinha desenvolvido as múmias artificiais mais antigas, há cerca de 7 mil anos. Contudo, a nova pesquisa antecipa essa prática em pelo menos 5 mil anos. Para o arqueólogo Vito Hernandez, da Universidade Flinders, a descoberta “posiciona o Sudeste Asiático como um polo independente de inovação cultural”.
As múmias mais antigas revelam não apenas a habilidade técnica desses povos, mas também a profundidade das suas crenças espirituais. Ao conectar passado e presente, a arqueologia mostra que a memória ancestral permanece viva e que tradições culturais continuam a inspirar a humanidade.